Talvez



Acreditar em sonhos pode ser tarefa árdua, penosa e por vezes cansativa à essência humana. Entretanto sonhar é dar voz a alma, por consequência, aqueles que não acreditam até o último instante que sonhos podem se tornar realidade acabam por calar a alma, suprimir a essência que lhes foi concedida. Ignorar a alma é como morrer em vida, enxergar sem ver, amar sem sentir. Não há dor maior do que viver sem ser, sem condizer às próprias convicções. Honrar a própria individualidade e idealismo sem soberba pode ser chave ao sucesso. Talvez seja esse o segredo, honrar piamente a voz da alma, da essência. Talvez a partir da libertação dos reais sentimentos se encontre a verdadeira razão, razão que reside na aceitação de si mesmo, razão que reside na coragem de ser sem medo, sem opressão. Talvez...

Peço sabedoria para não tentar compreender quem me cerca, mas sim amar e respeitar para que desta forma eu não julgue, não desaponte e não deixe com que a amargura da desilusão para com o próximo faça de mim pessoa avarenta. Amém.

Janelas


Abri a janela e vi um monte... Alto tal como desenhava enquanto pequena com aquarela sete cores. Vi também o maior sol que já vira em toda a minha vida, laranja como as abóboras gigantes que tia Nenê
plantava lá no quintal da roça. Abri a janela e voltei a ser criança. Senti o perfume das flores que há muito via, mas não enxergava. Escutei o cantar breve e eterno dos passarinhos me alegrar como há muito não me alegrava. Senti a brisa terna do verão emaranhar meus cabelos. Debrucei-me na janela como quem se debruça para a liberdade e verdadeiramente senti
o poder da nostalgia fazer de mim personagem das minhas lembranças infantis. Ao retornar percebi um sorriso sincero esparramado sobre meu rosto. Enquanto o sol brilhava mais ardia a chama da realização de tal façanha, de enxergar o céu mais azul. Mas com a rapidez de lebres sorrateiras vi todo aquele estase nostálgico trazer à minha alma uma melancolia corrosiva que rapidamente reduziu a nada o sorriso, o sentimento de liberdade, a glória. Refleti sobre o porquê de tamanha inconstância sentimental e logo encontrei a resposta da mofada charada. Ao facear sentimentos tão antigos balanceei o meu antigo e atual eu. Descobri um alguém cinzento, diferente do que a antiga janela remetia. Doeu perceber que desbotei com os anos, feriu perceber que há muito eu não desabrochava como as lindas flores que avistava. Foi então que subi no para peito das vigas de madeira da minha janela e me encontrei imersa na divisão de dois mundos. Ao olhar pra frente sentia a magnitude da liberdade, a mesma que tinha enquanto criança... Liberdade plena, liberdade que não jazia no maligno da realidade adulta. Decidi então fechar os olhos e pular, pular com força, mergulhar, submergir, me banhar daquela antiga, ou melhor, nova realidade. Decidi voltar às raízes que um dia fizeram de mim alguém inocente, mas real. Voltei finalmente a existir dentro de mim.


Ao nascer recebi não sei como nem de quem algo chamado ,pelos humanos de alma.
Ao crescer percebi que carregava junto a mim alma de poeta... Alma sensível ao
toque...mesmo nunca tocada. Alma que sofre só pra transformar dor em versos.
Alma que se deleita ao transformar alegria em nobre rima. Alma que transcreve o que
muitos não enxergam. Alma que hora pesa hora enleva. Alma que sente o
que ainda não foi sentido. Alma que transforma banalidades em inspiração.
Ao nascer recebi alma rara. Será este presente merecido? Duvido. Insisto em
esquecê-lo dentre minhas entranhas. É melhor que eu me presenteie
logo com o meu presente, antes que... Antes que ele se resuma a nada. Antes que só
me restem mares de folhas em branco e pó.

Cordas

Tudo em minha vida estava completamente bem. Talvez fosse esse o motivo de minha inquietude travessa e desnorteante. Todos os quadros estavam corretamente encravados nas paredes, lineares, simétricos, perfeitos. Era como se eu vivesse de atos impecavelmente ensaiados, como se eu recitasse falas minuciosamente escritas por classicistas. Até mesmo meus olhares eram regrados. Tudo milimetricamente em seu devido lugar. Era exatamente nesse cenário que o conflito se fazia real: naufragada nessa ordem descomunal estava a minha e só minha desordem. Nada daquela realidade fazia sentido a mim. Era como cantar ciranda e tocar o minuete. Vez ou outra eu me encontrava volvendo no balanço velho de uma árvore qualquer e percebia a tontura tomando conta de mim. Sentia um vento frio emaranhar minhas negras madeixas, sentia o vendo frio congelar meus sonhos de modo a me transformar numa pacata marionete presa pelas cordas de um velho balanço de madeira de uma árvore qualquer. Tudo estava completamente bem, era o que eu respondia quando me perguntavam como andava a carruagem. Se ousasse confessar que as notas se faziam dissonantes em minha partitura era repreendida instantaneamente. Era essa minha sorte: fazer o que me foi incumbido antes mesmo do meu nascimento. Vez ou outra corria àquela árvore qualquer para sentir o vendo varrer minha extensão corpórea, corria para sentir os raios de sol ternarem meu coração, para sentir alguma espécie de liberdade. Tolice! Por mais que eu girasse nunca sairia do lugar, as cordas eram implacáveis. Eu então voltava ao meu palco, acompanhada das minhas lágrimas. Tornava a recitar minhas falas e a atuar. Por mais que passassem as estações não havia como fugir, já tinham escrito tudo por mim, inclusive o ato final.

Inspiração

‘Quanto tempo’! Falei ao faceá-la inesperadamente, afinal há muito tempo minha velha amiga se fazia ausente... Era obvio que eu não queria evidenciar meu estarrecimento... Não queria expor minha satisfação ao presenciar seu espírito enaltecedor. Meu coração pulsava euforicamente chegando a descompassar entre um e outro suspiro. Era uma sensação indescritivelmente magnífica, faltava-me não só o ar, mas também a partitura que regia minha sinfonia. Era bem provável que vez ou outra ficava evidente a sinestesia doce e melódica que sua presença causava em meu pacato ser. Confesso que os momentos ali, com ela compartilhados, fizeram meus olhos brilharem verdadeiramente, fizeram meus pés desfalecerem sob um chão que num piscar de olhos se assemelhou a mais volátil núnvem vagante. Finalmente todo o ‘clichesismo’ romântico e sentimental se fazia válido a mim. Foi então que me entreguei de corpo e alma a ela. Distensionei os grilões que me limitavam. Libertei-me, passei então a viver essencialmente. Nunca mais esquecerei o dia em que você Inspiração iluminou minha vida que até então se fazia dissonância amarga e incoerente. Fico agora com a euforia de quem encontrou o mais doce perfume nas pétalas de uma rosa qualquer. A vida não mais em preto e branco enxergarei, pois terei você ao meu lado, presente durante todos os meus versos, estrofes e poemas, durante todas as estonteantes letras do meu viver.

07/04/11

Certa vez ouvi "para a perversidade humana não há limites". Concordo plenamente. É de dilacerar a alma ver jovens anjinhos serem fria e impetuosamente assassinados por um ser humano problemático, psicologicamente alterado. Não julgo o assassino, acho que cada um, um dia terá o que merece de acordo com seus atos. Não acho viés racional o bastante para tentar classificar, explicar, julgar tamanho massacre. Privo-me do sensacionalismo. Revolto-me pelas mortes de inocentes e lamento de maneira humana com lágrimas, solidariedade a dor sofrida por familiares. Contraponho a desumanidade com humanidade. Não corro em direção ao extremismo, oponho-me a chacina, procuro o oposto do que levou o assassino a cometer o incompreensível, procuro razão ( afinal veja só o caminho ao qual a irracionalidade conduz). Ao homem pertence a dádiva de raciocinar, ter consciência sobre seus atos por isso se diferencia dos demais animais. Espanta-me o retrocesso no qual muitos resolvem se inserir (por motivos incompreensíveis). Durmo com a minha indignação ao analisar o deplorável caminho seguido por alguns irracionais. Dói imaginar que hoje cerca de 13 sonhos foram destruídos sem motivo algum. Espero apenas que essas novas estrelas ajudem a iluminar o breu para o qual a humanidade caminha.

açebac arbeuQ


Tenho mania de ler palavras desconhecidas de trás para frente, isso porque sempre penso
na possibilidade de uma inversão que esconde em sua desordem algo que faça sentido. Tolice. Quase nunca funciona, mas quase sempre tento. 'A esperança é a última que morre', a minha já morreu faz tempo, apenas continuo a seguir minhas manias com o intuito de fazer dos meus dilemas algo menos avassalador. Se pararmos para pensar, na vida, vivemos na constante busca de coisas que façam sentido diante de nossos olhos, mesmo que no final a imagem continue invertida. Pode ser que a vida seja mesmo assim, uma obra de arte abstrata, que pode ser lida por meio de seus vários ângulos e pontos de vista. Não há certo ou errado, há apenas o menos ou mais adequado diante de ideias pensadas e aderidas pela humanidade. Se você não se encaixa nesse quebra cabeça é bem provável que seja louco, e o que é loucura afinal? Quem é sã o suficiente a ponto de dizer o que deve ou não se encaixar? Há peças que não se encaixam ao contexto e ponto final, sem ressalvas sem delongas sem possibilidades cheias de suposta razão. Seja você uma peça que se encaixa perfeitamente ou uma aberração nesse jogo no qual não há vencedor ou perdedor, apenas busque seu angulo perfeito para tentar fazer de sua obra de arte abstrata que algo que faça sentido. Mesmo que para isso sejam necessárias escrita e leitura de trás para frente. Talvez Da Vinci tenha sido um dia uma peça avulsa no quebra cabeça, talvez a anormalidade ande de mãos dadas a genialidade. Achei finalmente um angulo que para mim faz algum sentido. em-iexiacnE.

Pérola negra



Dizem que é difícil lidar com pessoas que não saber expressar seus sentimentos. Eu concordo. O mais engraçado é que também não sei como expressar meus sentimentos. Os que já conviveram com esse tipo de ostra em forma de gente chegam a afirmar que é impossível relacionar-se com seres tão introspectos. Eu concordo. E o mais engraçado é que eu sou uma ostra em forma de gente, sendo minha pérola, a introspecção. Como ser feliz com quem interioriza tudo que é fruto de relações sociais ou até mesmo fruto das relações entre o ser e o agir? Chegam a conclusão que é desconfortável e inviável conviver com pessoas assim. Eu concordo. E o mais engraçado é que sou assim. Pelo menos tenho como aliados a caneta e o papel, assim quando o relógio da sanidade resolve badalar à meia noite tenho alvo refúgio. Assim como agora. É, já se faz tarde, é melhor deixar meus fiéis aliados descansarem. Adeus.

Pré-sal da hipocrisia

Sabe qual é o problema? Se fosse fácil eu amaria! Mas como é difícil, insisto em dizer que odeio, que é péssimo esse tal modelinho de organização em que vivemos. Pura hipocrisia. Fico com medo dessa inconstância na qual me insiro. Critico a falsidade alheia mais me alimento dela todos os dias, chego a me inserir num quadro de sobre peso crônico. E como é bom criticar. Percebe? É a maré do sim e do não que sobe quando estou em alto mar. Resultado? Afogamento diário. E quando percebo já estou presa no pré- sal da hipocrisia. Não adianta mais tentar impor minhas forças afinal, no meu caso, a força peso é sempre maior (o peso da impotência perante tamanha incoerência).

Admiração


Acho que uma das características humanas mais admiráveis é o dom de lutar vorazmente pelos seus ideais. Quero deixar claro que apenas admiro esse dom quando o ideal é digno, verdadeiro e defendido de maneira incondicional pelo seu perseguidor. É invejável a coragem que certas pessoas têm em defender com unhas e dentes seus pontos de vista, suas convicções e doutrinas. É emocionante ver o brilho nos olhos dessas pessoas, a linguagem corporal empregada em seus protestos seguida de caras e bocas. Não vem ao caso discutir que ideais tão persuasivos são estes a ponto de seduzir alguém tão intensamente, o que cabe a mim é apenas relatar a admiração que sinto quando vejo nos dias de hoje revoltosos arriscarem suas próprias vidas em busca de mudanças políticas e pais que perderam seus filhos acamparem dia após dia em frente a prefeituras e órgãos ministeriais em busca de justiça. A voz da convicção é melodia aos meus ouvidos, os protestos quando bem protestados são sinfonias brilhantes ao meu julgar. Admirável é ver que sobre muitos as garras da inércia ainda não foram fincadas sobrando-lhes a força de perseguir seus ideais. Durmo hoje almejando ter um pouco da coragem destes heróis anônimos que não se deixam abater pelo medo, nem que para isso tenham de arriscar suas próprias vidas.

desabafo antes de dormir



cansei de comprar livros e nunca lê-los até o final
cansei de ter dúvidas sobre regras gramaticais
cansei de começar frase com letra maiúscula
cansei de amar e chorar ao perceber que não sou correspondida
cansei de contar com o ovo sem ter a galinha
cansei de achar que ganharia medalha de ouro e só ganhar bronze
casei de fingir sem quem não sou só pra agradar os outros
cansei de querer gritar e ficar com medo de acordar o prédio inteiro
cansei de me deprimir ao ver filmes de amor
cansei do altruísmo alheio que insiste em ser hipócrita
cansei de esquecer de levar escova de dente nas poucas viagens que faço
cansei de chorar sozinho no último capítulo da novela das nove
cansei de esperar que o mundo seja um lugar melhor
cansei de sorrir para conseguir o que queria
cansei de mentir e me arrepender
cansei de discutir sobre o que certo é o que é errado
cansei de pagar de intelectual enquanto tento achar razão em filosofia
cansei de me questionar e não encontrar respostas
cansei de chorar por gente que sequer sabe onde moro
cansei de acordar cedo e se deparar com olheiras roxas e cabelo armado
cansei de passar rímel e espirrar
cansei de limpar e sujar
cansei de me sentir mal por não reciclar
cansei de esperar pelo 'casa comigo?'
cansei de tentar parar de falar palavrão e não conseguir merda nenhuma
cansei de fazer planos no reveillon
cansei de abrir mão de alguma coisa por ter medo das consequências
cansei de arrumar minha cama todos os dias
cansei de bagunçar minha cama todos os dias
cansei de me irritar com hipocrisias
cansei de derrubar pasta de dente na blusa nova antes de sair de casa de manhã
Mas dentre todo esse cansaço não cansei de viver e enquanto isso não acontece
ainda me alegrarei em viver fadigando minhas fadigas, me alegrarei em buscar energias para me cansar cada vez mais... estou cansado, hora de dormir... boa noite, bom descanso ...

Diálogo

ELE: Porque você me trata sempre como o vilão da história?
ELA: Porque você me roubou...
ELE: Acho que você endoidou de vez! O que eu poderia roubar de você?
ELA: O meu coração.
ELE: Acho que não fiz por mal, isso ainda me faz o vilão da historia?
ELA: Sim...
ELE: Acho que vilões não sentem o que estou sentindo agora...
ELA: O que você sente?
ELE: Culpa
ELA: Por quê?
ELE: Por ter te roubado...
ELA: Ah...
ELE: Há algo que eu possa fazer em troca?
ELA: Sim...
ELE: Então me diga!
ELA: Deixar com que eu também roube seu coração
ELE: Impossível…
ELA: Por quê?
ELE: Como vilão não gosto de finais felizes. Adeus.

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Não há sentido em decifrar o que há dentro de cada um. Cada cenário diz respeito apenas ao ator que o utiliza como meio de brilhar, imaginar, como ferramenta para existir dento de si.

Aline Ribeiro Cunha.

About Me

"O coração da mulher é assim; parece feito de palha, incendeia-se com facilidade, produz muita fumaça, mas em cinco minutos é tudo cinza que o mais leve sopro espalha e desvanece." Manuel Antônio de Almeida

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