Abri a janela e vi um monte... Alto tal como desenhava enquanto pequena com aquarela sete cores. Vi também o maior sol que já vira em toda a minha vida, laranja como as abóboras gigantes que tia Nenê
plantava lá no quintal da roça. Abri a janela e voltei a ser criança. Senti o perfume das flores que há muito via, mas não enxergava. Escutei o cantar breve e eterno dos passarinhos me alegrar como há muito não me alegrava. Senti a brisa terna do verão emaranhar meus cabelos. Debrucei-me na janela como quem se debruça para a liberdade e verdadeiramente senti
o poder da nostalgia fazer de mim personagem das minhas lembranças infantis. Ao retornar percebi um sorriso sincero esparramado sobre meu rosto. Enquanto o sol brilhava mais ardia a chama da realização de tal façanha, de enxergar o céu mais azul. Mas com a rapidez de lebres sorrateiras vi todo aquele estase nostálgico trazer à minha alma uma melancolia corrosiva que rapidamente reduziu a nada o sorriso, o sentimento de liberdade, a glória. Refleti sobre o porquê de tamanha inconstância sentimental e logo encontrei a resposta da mofada charada. Ao facear sentimentos tão antigos balanceei o meu antigo e atual eu. Descobri um alguém cinzento, diferente do que a antiga janela remetia. Doeu perceber que desbotei com os anos, feriu perceber que há muito eu não desabrochava como as lindas flores que avistava. Foi então que subi no para peito das vigas de madeira da minha janela e me encontrei imersa na divisão de dois mundos. Ao olhar pra frente sentia a magnitude da liberdade, a mesma que tinha enquanto criança... Liberdade plena, liberdade que não jazia no maligno da realidade adulta. Decidi então fechar os olhos e pular, pular com força, mergulhar, submergir, me banhar daquela antiga, ou melhor, nova realidade. Decidi voltar às raízes que um dia fizeram de mim alguém inocente, mas real. Voltei finalmente a existir dentro de mim.
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Há 10 anos
1 comentários:
Muito bom Aline! :) Eu sei q vc não tem tendências suicidas pq vc mora numa casa térrea.
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