Aquela menina séria, que esconde suas doces gargalhadas. Eu sei que ela existe, na realidade não posso afirmar que alguém existe ou não, mas esse não é o ponto em que quero chegar. Afinal a existência é obscura, penetrante e freneticamente energizante. A verdade é que eu inocentemente acreditava nas risadas da menina, que já não era travessa, que já não soltava gritinhos suaves enquanto corria, tropeçava, caia, se levantava, olhava para os cantos e ria. Era indescritível escutar os risos que vinham dela e não rir junto, e não sentir um sentimento puro, nem um pingo de apelo social, nem interesse, e principalmente sem nenhum tom sínico. Eu acreditava que aqueles risos apenas saiam do espírito amável dela, eles inundavam o meu ser. Mas o tempo passou, bem o tempo passou mais rápido que o comum; não sei ao certo o que é comum ou bizarro, mas sei que o incomum surpreende de uma forma ácida. E ele passou, carregou uma boa parte da inocência da minha criança, carregou seu olhar curioso, que gostava de explorar o novo. Carregou seu pequeno tamanho, seus cabelos despenteados e cacheados. Mas principalmente carregou suas risadas inocentemente perfeitas. Eu continuava a amar minha menininha, digo, minha, bom eu não sei se agora ela é garota, moça ou mulher, mas continuava a ser a minha doce menina. Eu agora ficava sentado na minha velha cadeira de balanço, na sacada da minha antiga casa a interrogar insanamente o tempo. Porque você carregara os constantes risos da minha garotinha? Prá onde eles foram? E enquanto me entregava ao surreal avistava a imagem dela estacionando seu carro na garagem e me beijando a testa. Eu acredito filha, na sua doce risada, no seu brilhante sorriso, eu sempre acreditarei, mesmo enquanto eles insistem em se esconder. Eu dizia enquanto ela subia as escadas afoita sem poder escutar o que eu sussurrava. Fechei os olhos e novamente me entreguei aos nostálgicos sonhos da macia infância de minha risonha menina. Eu estranhamente ria durante o meu adormecer.
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Há 10 anos