Eu sinto saudade de quando amor era amor. Hoje em dia amar virou banalidade. Duas pessoas
se conhecem, encontram gostos em comum e pronto, se amam. Um amor aguado, ou melhor, um
amor água e óleo. É isso mesmo, água e óleo: sem integração, sem envolvimento, sem harmonia entre si. Esse é o típico relacionamento onde as únicas afinidades podem ser comparadas àquela única película que fica em contato entre a água e o óleo. Está ai, basta um pequeno contato, (mesmo que todo o resto esteja separado) para dizer: É AMOR! Chego a ficar nauseada. Mas deixe que se iludam em estar juntos mas não serem uma unidade. Para mim amor é a fundição completa entre dois corpos, ideais, sentimentos e não apenas o contato entre duas partes onde não há ao menos harmonia. É, parece que os valores estão se deteriorando, parece que sentir verdadeiramente o mais nobre dos sentimentos virou piada... Entretanto ainda acredito que haja os que amem essencialmente, ainda acredito que existam aqueles que amem amar.
Amor agua e óleo
Solilóquio
Tenho o papel (alvo), a tinta e a pena. Pena de mim pois por mais que tente não acho o que mais preciso. Monólogo inútil e desprezível. Ainda mais desprezível é sentir pena de si mesmo. Mas é o que sinto pois quando escrevo não sou eu quem me ocupo em ser. A alma de poeta, escritor transfigura-se e pronto. Ou melhor, ponto. E daí em diante é só deixar fluir a inspiração, não há calculo, raciocínio quiçá planejamento (particularmente). A problemática no entanto reside na ausência da inspiração. Note que digo inspiração, não dom. Será este um pensamento egocêntrico? Não ligo! Ora, não ligam pra mim, logo porque devo eu ligar para o possível sentimento alheio? AH, é melhor que eu pare por aqui afinal falar de sentimentos envolve muita complexidade, ao contrário da escrita; complexidade patológica eu diria, beirando a loucura, a falta de razão. Fico eu com o papel (não mais alvo), também não digo que este turvou-se com utilidades e filosofia e digo isso com o intuito de massacrar possíveis expectativas. Fico também com um resto de tinta, que será combustível ao transformar pensamentos em algo palpável. Já a pena, ah! Não quero deixar-me perturbar com essa pequena plebéia. Monólogo inútil!