Imaginário Pianista


As estrelas estavam esparramadas no céu e junto delas, a lua, destacando-se com seu
brilho imensurável, atraindo olhares perdidos. Uma estranha garota roubara todo aquele brilho lunar
e colocara em seu olhar. Depois, suspirou fundo e sentiu no peito, seu jovem coração
afoito, bater mais rápido, tirando-lhe o folêgo. Adentrou o salão, sentiu algo
como um calafrio, não sabia dizer se aquilo agradáva-lhe ou apenas a deixava
ainda mais suspensa diante de tantas emoções inexplicáveis. Mas que ironia!
Nada havia ela marcado, quiçá agendado para aquela noite. Como conto de
fadas, apenas ouviu logo pela manhã o canto dos pássaros, inspirando-a a ser feliz,
pelo menos daquela noite. No infinito daquele salão ouviu a melodia suave
de um piano fazer-se presente em seus ouvidos, em sua mente. Fechou os
olhos lentamente enquanto suspirava de modo a sentir cada novo aroma
presente. Caminhou em direção a melodia, passo a passo foi percebendo
que a música remetia a infânfia, um sentimento nostálgico mas sereno
deixou sua noite ainda mais especial. Chegou ao pé do piano, que iluminado
à luz de velas parecia ainda mais bonito. Mas para surpresa da garota ninguém
era responsável por toda aquela música majestosa. Ela, absorta, parou de
pensar, como se isso fosse possível. Deitou e adormeceu ali mesmo, enquanto
era hipnotizada pelas lembranças. Dormiu, quem sabe acordou, afinal a diferença
entre o real e o imaginário só existe dentro de nós e pertence somente a nós.

Perdidos ?


Para onde eles fugiram? Eu não encontro, por mais que procure em cada entranha
da minha vida não obtenho resultado algum. Já revirei as caixas de lembranças que
guardo no alto do armário, encontrei fotos, diários, recortes e objetos que me
fizeram rir e chorar, mas não achei o que procurava, sentei ofegante no pé da cama,
passei as mãos no pescoço e ri perante a ineficácia do meu procurar. Resolvi dar uma
volta na praça perto da minha casa, que por sinal andava perfeitamente entediante.
Vi pessoas, que nunca tinha visto na vida e que provavelmente nunca mais verei,
mas também, se voltasse a encontrá-las certamente não as reconheceria. Tolice.
Ouvi o badalar dos sinos imponentes da matriz, caminhei enquanto tentava lembrar
das minhas inspirações, aquelas que com certeza deram origem, bem, deram
origem a tudo que preciso no momento. Cheguei à minha casa, adormeci. Encontrei,
encontrei, encontrei,tenho tudo que preciso agora! Mas como sonho de uma noite,
noite sem ser de verão, perdi-os diante da imensidão do meu inconsciente.
Malditos sonhos, porque insistem em fugir de mim ?

É natal

Porque é sempre assim, essa rotina dita anual,
as luzes acendem-se no jardim,
a estrela brilha no topo de uma árvore,
dita de natal.

Presentes, preparativos, despesas,
Um suspiro pesaroso, ainda há muito a fazer,
muito a fazer, e pouco temos dormido,
afinal são muitas as expectativas (falsas).

É chegada a véspera, as luzes brilham!
Brilham mais plastificadas, alta voltagem, (220 ou 110?).
Abraços superficiais, mas afinal é natal!
É valido que vistamos máscaras,
pelo menos no natal, sejamos felizes.

"Mas e a essência?"
"Ah, essa não vendia na loja mãe."
Deixa para o ano que vem,

que vem, que vem, que vem...

Que na realidade nunca existiu,
nunca existirá.
Somos todos assim,
superficiais,
manipuláveis,

modificados por luzes artificiais de um dito natal,
que perdeu-se na podridão da humanidade.

"Olha filho, é a estrela cadente! Faça um pedido,
e ele se realizará."

"Eu escolho o natal, digo, Natal!"
Inocência de criança...

Bate o sino pequenino,
essencial.

Cores do distante porvir

Ela era, sozinha no mundo real, não tinha amigos, quiçá família. Talvez fosse o exemplo vivo de solidão, quem sabe, a solidão em si. Na rotina monocromática de sua vida tudo era perfeitamente repugnante, não havia sequer um acorde melódico, ou um por do sol radiante, apenas tempestades seguidas de trovões e raios avarentos. Era assim, não havia nada a se fazer perante o destino da pobre donzela abandonada por seu próprio conto de fadas. Ela não gostava de filosofar muito sobre o assunto em questão, de certa forma evitava mergulhar fundo na melancolia, pulava a vida, como quem pula uma pedra irritante no meio do caminho. O engraçado era que dentre os versos de poema sombrios e perversos que a cercavam havia sonhos extremamente peculiares, havia um esboço da construção de um mundo melhor. Não digo que a idealização citada era repleta de cores vivas e calmaria, digo apenas que ali existia um porvir. Ela desenhava seu futuro em folhas amareladas e carcomidas por lembranças ressentidas, por um presente entediante, por uma realidade borrada de lágrimas. O importante é que ali, naquela aquarela ressecada pelo tempo existia vida enrustida. Foi assim, pouco a pouco que a menina cigana foi enraizando suas verdades e anseios, desenhava, desenhava, desenhava, até adormecer, e com suas caricaturas sonhar, fazendo-as reais. Às vezes, em noite obscura e fria, ela rasgava uma ou outra folha, deixava de libertar alguns sonhos brilhantes, reflexos de esperança, outrora juntava os pedacinhos desprezados no chão irregular e assustava-se ao perceber que em sua face havia bordado um envergonhado sorriso. E foi assim, que a caricata personagem deu vida a sua própria vida, desenhando sonhos em papel embolorado, desenhando o seu futuro com sorrisos tortos. Chegou a descobrir que atrás da montanha queimpedia o sol de brilhar em sua vida, havia um porvir. Hoje a ex menina, agora mulher, caminha pelo meio fio de uma trajetória qualquer, pois para ela não há limites impedindo-a de escalar os rabiscos da nossa curiosa existência, pois hoje seus desenhos são repletos de cores vivas, pois hoje ela faz parte de seu conto de fadas, mesmo que não haja somente perfeição esboçada.

Partida


Naquele dia parecia que ela estava cansada demais para fazer qualquer coisa que exigisse o mínimo esforço. Queria ser deixada de lado, quieta no canto dela, sem que ninguém a encomodasse, sem que ninguém soubesse que ela existia.
Ela acompanhada do seu corpo saiu para dar uma volta, sentiu a brisa do verão varrer a pele daquele corpo, que não era nada sem ela, apenas matéria. Continuaram a andar pela calçada de pedras da rua onde morava a matéria e a essência. Para os que vissem de fora era impossível perceber qual delas estava exaurida de tanto lutar, de tanto ser quem realmente é. Após a caminhada chegaram em casa, as duas juntas é claro. O sofá da sala parecia tão atraente, seria ali mesmo que iriam se esparramar. Mas, era o limite dela, da Vida, que deu seu ultimo sopro, deixando a Matéria ali, só, condenada ao nada sem sua compania. Condenada ao silêncio mortal do exausto abandono.

Quem sabe?


Na saga da minha vida
Houve choros e abraços,
No filme da minha história
Extremos amores e descasos,

Nas falas do meu roteiro,
Risadas falsas e devaneio
Na chave da sentença final,
Quem sabe, um belo torneio.

Alguns sorrisos amargurados
Espécie de novela desigual
Surpresas, estranhas trapaças
Quem sabe, nada disso foi real.

Tudo que sei foi que atuei
Entre finais e recomeço
Mas como ator grandes tropeços
Quem sabe, palco vazio almejo.

Se for rima ou discrepância
Desfazendo os nós da inconstância
Decifrando as cirandas dessa vida
Quem sabe, há sempre esperança?

As quatro estações.


Verão de 1920.
O dia estava lindo, eu me lembro muito bem. Os pássaros cantavam alto, as borboletas dançavam conforme o vento as carregava. Estávamos lá, eu e ele,
sentados no banco em frente do jardim de nossa casa recém comprada. Éramos recém casados, e nos amávamos tão intensamente, tão verdadeiramente que fica difícil de descrever. Ele vestia sua farda verde, e em cima de seus cabelos negros e cacheados o chapéu com um distintivo verde e amarelo. Eu gostava de me arrumar quando ele estava em casa. Meu cabelo curto estava impecável, uma blusa de seda com botões de pérola, saia no joelho e sapatos lustrados. Estávamos olhando o pôr do sol, talvez o mais bonito da minha vida, e da dele também. Vi que ele estava
inquieto enquanto mexia no bolso esquerdo, eu fingi que não reparei, fiquei olhando para o fim da rua, absorta em minha felicidade. Senti um toque de leve no pescoço, olhei rapidamente e encontrei seu olhar, escutei sua voz cantada sussurrar no meu
ouvido "Isso é para você, meu amor, pois você é o bem mais precioso que tenho na vida, o sol mais radiante que posso contemplar, a flor mais delicada, a jóia mais perfeita, a luz do meu olhar". Enquanto eu processava aqueles versos de poema tão bem recitados, lágrimas de felicidade varriam meu rosto. Ele tirou da caixinha um colar de rubis, o mais perfeito que eu já vira. Com suas mão delicadas prendeu-o no meu pescoço. Eu o beijei ternamente, enquanto o sol cedia seu lugar para a lua brilhar.

Primavera de 1930.
Era o dia do nascimento do nosso primeiro filho, eu queria uma menina, e ele um menino. Eu sentia as dores do parto enquanto ele segurava firme minha mão, eu sabia que podia contar com meu marido, eu me sentia segura com ele ao meu lado, enquanto eu estava sentada na poltrona, segurando minha enorme barriga, gotas de suor pingavam, eu sabia que ele estava preocupado e extremamente empolgado com o nascimento. Passei a mão no meu pescoço, senti o colar de rubis na ponta dos dedos, me lembrei do quanto o amava, de como ele era perfeito para mim. Olhei fundo nos olhos dele e disse "Eu te amo, para sempre". Ele retribuiu meu olhar, me beijando na testa. Horas depois, do lado de fora da sala ele pode escutar o choro forte do nosso filho, eu não
me continha de tanta felicidade, alguns instantes depois mais um choro forte, era uma menina,
tão linda quanto o primeiro. Como fui eu abençoada, minha vida estava perfeita. Depois fui para o quarto, e segurei meus dois filhos, um de cada lado. Ele olhava para sua família agora completa, e acariciava os recém nascidos delicadamente. Olhei para fora, e vi pela pequena janela a lua cheia brilhar, assim como os meus olhos, maravilhados.

Outono de 1940.
As folhas amareladas caiam das árvores, as crianças já crescidas corriam no jardim,
e, como todos os domingos eu e ele sentados no banco, agora cor de várias estações. Os gritos
animados e as risadas inocentes dos nossos filhos eram tão gostosos de apreciar... Já estava quase escurecendo, quando ele disse baixinho para mim "Você se lembra ? Foi aqui que eu fiz juras de amor para você, e agora com nossos filhos crescendo, meu amor por você é ainda mais singular, só posso te agradecer por você fazer parte da minha vida". Eu o abracei fortemente, ele passou a mão no meu colar, as pedrinhas cor de paixão simbolizavam nosso amor. Ficamos ali por mais algum tempo, as folhas caiam das árvores, as crianças tentavam pegá-las ainda no ar. Eu encostei minha cabeça no ombro dele, segurando firme a sua mão.

Inverno de 1970.
Os nossos filhos haviam crescido e se casado, cada um já tinha sua vida, e eu tinha a minha. Agora eu estava solitária, sentia a dor de sua presença não mais poder sentir, de sua voz não mais poder ouvir, de seu olhar não mais poder apreciar. Estava frio demais lá fora, estava frio demais aqui dentro, estava frio demais dentro do meu coração. Mesmo assim, lá fora parecia tão mais atraente. Eu vesti meu casaco grosso, fui ver o pôr do sol. Sentei-me no nosso banco, tão antigo , o vento me congelava, mas ali eu sentia sua presença. Coloquei minha mão sobre o meu pescoço, senti as pedrinhas brilhantes, senti seu cheiro ali, senti seu calor. Acho que pude escutar você sussurrando aqueles lindos versos no meu ouvido, aqueles que eu sabia de cor: "Isso é para você, meu amor, pois você é o bem mais precioso que tenho na vida, o sol mais radiante que posso contemplar, a flor mais delicada, a jóia mais perfeita, a luz do meu olhar".
Fechei os olhos com a minha mão ainda segurando a jóia, adormeci, enquanto via pela última vez o sol cedendo lugar para a lua brilhar.

Nem preto nem branco


Andava ele na rua, estava chovendo forte, as gotas não deixavam com que
ele visse nitidamente seu reflexo nas poças formadas rente ao meio fio. Naquele dia nem preto nem branco, ele não gostou do seu reflexo, não gostou da sua descrição, não gostou do que viu no espelho trincado. Achou a solução, camuflou-se com mentiras, camuflou-se com um saco de palavras, de virgulas de pontos e finais que nada dele tinham. A principio foi bom, mais depois não havia mais sentido em tudo aquilo, mais o circulo vicioso estava formado, não havia escapatória. Uma farsa entrelaçada na outra fazia com que os tropeços no barbante das mentiras, fizessem constantes. Foi então, que depois de muitos invernos o outono chegou. As folhas das inconstantes caducifólias insistiam em cair. Ele respirou fundo, precisava se livrar de todo aquele personagem obscuro. Rasgou em incontáveis pedaços a mascara que cobria seu rosto, desenrolou o barbante farsante, e resolveu ser quem realmente era. O sol raiou alto no céu, enquanto o vento carregava as folhas que no chão caídas estavam.

Eclipsado navegar

.

Andando e tropeçando, ela seguia
Ouvia passos, sentia calafrios
Estranho sonho: fugir, recuar, correr
Estava ela sozinha , totalmente sozinha
Buscava olhares, luz ansiava, procurava paz.

Andando e vagando, buscando sentido.
Menina caricata, tentando amar
Estrela cadente, sol poente
Favoritas paisagens, sempre procurava

Final e começo, ela escolheu
Tempo travesso, divergentes escolhas
Sentido sem ordem, personagem sombria
Talvez arredia, noite sem lua.



PS: O diferente desse poema, é que, você pode ler as palavras de trás pra frente que também faz sentido. Espero que gostem. ;D

Não volta jamais


Saudade do tempo em que eu tinha medo do escuro. Saudade do tempo onde o paraíso era o parquinho da praça. Saudade do tempo onde minhas bonecas eram como amigas. Saudade do tempo onde meus cabelos viviam cheios de fitas. Saudade do tempo onde dar as mãos era um ato de confiança. Saudade do tempo onde o meu refúgio era uma cabaninha de lençóis. Saudade do tempo onde eu brincava de desenhar sonhos com aquarela. Saudade do tempo onde eu corria sem me preocupar. Saudade do tempo onde o relógio era apenas um enfeite. Saudade do tempo onde minhas risadas eram puras e inocentes. Saudade do tempo onde eu corria e rodava até me cansar. Saudade do tempo que não vai jamais voltar.

Ali era o seu lugar


Ela olhou pela janela. Apreciou a paisagem, o céu estava desapontado, com feições
melancólicas e distantes. As nuvens pareciam estar fartas de tanto vai e vem, e o
vento soprava só por soprar. Ela olhou para o muro, onde um gato malhado andava
sem rumo, direção, sem sentido, sem emoção. O pobre animal saltou, aterrissou
na relva molhada, seguiu seu destino, em plena liberdade segundo seus instintos.
Ela colocouas mãos no vidro empoeirado da janela, respirou fundo, mas
parecia que algo a preservava ali, mesmo com todo aquele sentimento de angustia,
mesmo com todo o medo e pavor, seu lugar era ali, onde o céu não era ao menos
feliz, onde os pássaros cantavam baixinho e com pesar, onde o tempo passava
pesaroso, e o amor, ah o amor, onde o amor não podia imperar. Ela passou a
mão no rosto, prendeu os longos cabelos escuros, sentou em sua cadeira velha e
bamba, pegou seu livro, o mais fiel companheiro para todas as horas, e se entregou
a história das páginas amareladas e carcomidas. Conforme escurecia, ela via o
gato escuro passando de um lado para o outro, mas aquilo pouco importava, afinal,
ali, por trás da janela, ninguém podia vê-la.

Sacolas cheias de sonhos


Voo devagar, vejo pessoas andando em direções distintas, cada qual levando
seus sonhos nas costas. A sacola dos sonhos pesa muito, chega a incomodar,
porque quanto mais queremos que eles ganhem assas e conosco voem, mais
eles pesam, e nos deixam com os pés firmes, no duro chão. Chega uma hora
que as costas começam a doer, porque as sacolas insistem em pesar, pesar
demais, para uma só pessoa. É dada a sentença final, abandonamos a sacola
numa esquina qualquer, esquecemo-nos dela. Para os nossos sonhos resta
uma única opção, se dissolver com a primeira chuva forte, e eles simplesmente
deixam de existir. Nas costas, já não carregamos o peso da sacola pretensiosa,
e na mente não mais enxergamos a ilusão de um dia dar asas ao conteúdo que
tanto nos incomodou, mas que um dia faria com que realmente fizéssemos parte
de um voo real.

Ligação desconhecida


Silêncio do outro lado da linha. Ela ali, segurando seu celular rente ao lado
direito do delicado rosto. Era uma chamada perdida, número desconhecido, ela
não fazia a mínima idéia de quem era. Parecia distraída esperando por uma resposta
do outro telefone. Andava de um lado para o outro, um pouco impaciente, quem sabe?
- Alô ? - Eu respondi, despreocupada, era apenas mais uma ligação na minha vida,
sem motivo, apenas mais uma simples ligação.
- Alô, quem fala ? - A menina esboçava pressa na sua voz persistente.
- Com quem gostaria de falar ? - Eu não deixaria meu nome escapar tão fácil assim, afinal aquilo poderia ser alguém, me descobrindo. Construí minha personagem, seria uma senhora, de voz doce e afetuosa.
- Ah.- Ela balbuciou- Aqui é a, Eduarda. É que tem uma chamada desse número aqui
no meu celular, e, bem eu gostaria de saber se alguém daí me ligou...
Então Eduarda era seu nome, era imponente. Eu precisava dizer meu nome,
qual sería o escolhido desta vez ? Precisava ser o mais natural possível.
-Olha, eu moro sozinha querida, e a velhice está tomando conta dos meus neurônios,
sabe como é?- A respiração dela pareceu ficar mais desregulada.
-Sim, me desculpe, então a senhora deve ter me ligado por engano. Qual teu nome ?
Eu sabia que ela faria essa pergunta, eu tinha experiência no que fazia.
- É Beatriz, desculpa o incomodo meu doce, deve ter sido engano. - Tenho certeza que ela sentiu pena de mim nesse momento.
-Magina. A senhora mora sozinha mesmo ? - A jovem pareceu se arrepender após fazer esta pergunta. Ela devia me achar vulnerável demais para viver sem compania.
-Sim. Na realidade minha filha caçula que morava comigo se casou mês passado, e passei a morar sozinha.
-Mas não é perigoso demais? - Ela realmente tinha caído na armadilha.
-Não sei, já não posso julgar o que é seguro e o que é perigoso, meus pensamentos andam tão confusos. - Fingi um suspiro pesaroso no final da minha fala.
- Pode parecer estranho, mas, porque a senhora não me dá seu endereço, eu ando tão entediada ultimamente, e a senhora parece estar meio solitária.
Se eu fosse uma pessoa boa teria sentido dó. Eduarda, o significado desde nome eu sabia bem: próspera, guardiã. Mas eu não era boa, e não senti nenhuma compaixão daquela que, pelo menos por pouco tempo, queria ser minha guardiã.
-Você parece ser uma mocinha muito generosa. Espere só um momento, vou pegar o papel onde está escrito meu endereço. Você espera?
-Sim, claro, pode procurar com calma dona Beatriz.
Eu fiz barulho abrindo a gaveta do meu cômodo velho, peguei uma folha, para que os sons parecessem reais.
-Achei, você pode anotar ?
-Sim, já estou com caneta e papel nas mãos. - A voz dela, de repente, pareceu vigorosa.
-É Rua das Lembranças, número 163.
-Certo, e só mais uma pergunta Dona Beatriz, que cor é a sua casa, fica mais fácil para encontrar assim.
-Espera, com quem eu estou falando mesmo ?
-Com Eduarda, a senhora não se lembra? Eu ia fazer uma visitinha, ai na casa da senhora.
-Sinto muito mocinha, mais eu não conheço nenhuma Eduarda. - Desliguei o telefone, e sentei novamente na minha cadeira de balanço. Ela apenas escutou o pi, pi, pi, da ligação terminada no celular. Deve ter ficado confusa, um pouco impaciente, quem sabe?

Só ou rodeada ?


Antes só do que mal acompanhada. Com certeza, a paz da solidão, se é que isso
existe, é melhor do que a tormenta da compania de muitos que não valem nada. Mas
quem sou eu pra dizer o quanto alguém vale? Eu só posso dizer que estar junto de
alguém que não me faz bem, é tão insuportável quanto viver sem ninguém. Ora,
e quando todos que me rodeiam não me fazem bem? Só me resta a solidão, mas
a solidão é algo horrível para mim. Não sei para onde ir, para onde olhar, qual
caminho escolher. Fico assim, perdida no vazio dos meus pensamentos, apenas
esperando pela presença de alguém, que seja bom. Se eu estou errada, ou minhas
opiniões são incoerentes, não sei. O fato é que a presença de seres inconstantes
e vazios, perto de mim já não posso suportar. Espero apenas não estar sendo hipócrita,
perante a minha maneira de inocentemente julgar.

Isso pode durar horas, dias, meses, anos...


Se arrependimento matasse, não haveria vida. Quem afirma que nunca se arrependeu, pelo menos disso um dia se arrependerá. Nós agimos conforme o momento, as pessoas que nos cercam e conforme as cosequências desses atos. Só que o cenário sempre muda, as estações se sucedem e nosso ponto de vista sofre profundas alteraçãoes. Então o arrependimento chega, acompanhado da flagelação mental. Isso pode durar horas, dias, meses anos ou infelizmente uma vida toda.O fato é que, quem nunca se arrependeu, nunca foi capaz de mudar e por consequência, não teve coragem para progredir, explorar, para o novo conhecer. Não digo que o arrependimento é algo bom, longe disso, mas digo que é necessário para adquirirmos experiência, e uma vida sem experiências, não pode ser vivida. O arrependimento pode ser reduzido, se uma boa dose de bom senso for adicionada às nossas ações, mas uma coisa afirmo, se arrepender é um dos principais degraus para um futuro bem estar.

Sorria


Se você fosse feliz, riria comigo e se alegraria com as minhas vitórias, mas como não é sente arrepios quando eu ingenuamente me alegro, quanto eu dou gargalhadas
imaturas, e brinco sem ter motivo. De você eu sinto dó, pois a tristeza consome almas
tão jovens quanto a tua, e abre cominhos para enormes desilusões. Aposto que se
anunciassem numa loja qualquer "compre aqui uma vida feliz", você seria a primeira a fazer uma oferta,e não mediria esforços para comprá-la, mas como o velho ditado diz, dinheiro não compra tudo. O prazer de se alegrar com coisas tão pequenas, para você é um desafio, pobrezinha, se soubesse como isso é bom, com certeza nunca mais esqueceria. Mas, tudo se encaixa,e cada um tem exatamente o que merece. Se para você a tristeza sobrou, eu lamento,não fui eu quem para você, isso desejou. Tente pelo menos transparecer serenidade, quem sabe assim, querida, alguém um dia, de você sinta a mais superficial piedade.

Qual seu nome ?


Naquela manhã ensolarada ela vestiu uma máscara, para que ninguém percebesse quem realmente agia naquele corpo. Prendeu o cabelo bem lá no alto e colocou um chapéu velho, seguido de um longo sobretudo e botas grosseiras. Abriu a porta da sua estranha casa e andou pelas ruas que se sucediam, sem ordem, sem sentido. Era diferente ver que ninguém a reconhecia, ninguém a possuía, ninguém fazia questão de cortejá-la. De vez em quando alguém olhava profundamente em seus olhos e esboçava alguma familiaridade, mas isso logo acabava, e ela continuava a seguir
seu solitário rumo. Disfarçada ou não, era doloroso saber que sozinha agora ela tinha que estar. Foi assim que aos poucos ela tentava deixar as fantasias exageradas de lado, e passava a vestir apenas um casaco ou um óculos engraçados. As mesmas coisas voltavam a acontecer, um ou outro olhava mas ninguém a reconhecia, ninguem tinha ALGO DELA GUARDADO DENTRO DE SI. Então em outra manhã, mas desta vez cinzenta, ela resolveu sair como realmente era, sem disfarces. Corria pelas ruas de olhos fechados, esperando que vários viessem ao seu encontro.De fato alguns vieram e relataram as pacatas vezes em que conseguiram sentir sua delicada voz
agindo dentro de suas mentes, ajudando nas horas difíceis. Só sei que poucos contei, e mesmo assim metade deles sinceros foram. Foi então que eu descobri quem aquela pessoa era, descobri seu nome, Esperança. Seu brilho estava meio apagado, e suas rugas mais salientes. Enquanto a noite caía, ela voltava devagar pra casa, tentava encontrar forças para acreditar na manhã seguinte.

E se hoje fosse seu último dia ?


Se hoje fosse o seu último dia, o que você faria? Alguns se arrependeriam por coisas que fizeram, outros por coisas que deixaram de fazer. Alguns perdoariam, outros se arrependeriam. É possível que muitos se ajoelhassem no chão duro, pedindo com todas as forças o recebimento de perdão. Certamente haveria os que arriscariam os que fugiriam os que se isolariam no meio do nada. Talvez alguns falassem coisas duras demais, coisas doces demais, chorariam, brincariam. Algumas paisagens específicas seriam observadas pela última vez, algumas músicas seriam apreciadas pela última vez,
alguns perfumes seriam inspirados pela última vez. Alguns olhares desde aquele instante, saudosos, seriam emitidos. Sorrisos nostálgicos, toques já distantes. Cada um teria uma ação específica, uma reação diferente, um desejo coerente. Não há muito que dizer, não há como agir sob toda a pressão de ter que se despedir de tantos que fizeram diferença, ter de abrir mão de todos que amamos ter de dizer tchau à magia que é viver. Não terminarei dizendo para vivermos o hoje como se não houvesse amanhã, mas sim para sermos gratos à vida durante o hoje, durante o amanhã, durante o sempre.
Não digo que minha visão é otimista ao extremo, e muito menos grata em todos os momentos, mas sim que, melhor do que lamentar é fazer com que cada segundo valha a pena, e isso só diz respeito à vontade que cada um tem de ser espontaneamente
grato à oportunidade que temos, a vida.

Pedaços


Hoje, acordei um pouco incomodada, e quando meus olhos resolveram romper o breu que me desligava da realidade, percebi que algo quebrado em vários pedaços me machucava. Não soube distinguir ao certo o que aquelas coisas negras, pontudas e despedaçadas faziam ali, e nem do que eram feitas. Meses passaram-se, pessoas passaram pela minha vida, e para ser sincera, muitos não fizeram falta quando resolveram partir. Mas uma, valia por milhares, assim como uma estrela brilhante no céu, vale pelas outras, que se assemelham a poeira. Aquela pessoa fazia com que o vento parasse de soprar, e que os outros virassem estátuas gélidas e superficiais. Mas enfim, ele se foi, e de fato meu mundo parou nada mais importava, eu só gostaria de sentir sua presença novamente, só gostaria de escutar meu coração batendo mais forte quando percebia seus lábios nos meus. E foi assim, durante anos, eu acordava sentindo as agulhas surreais beliscando minha pálida pele, enquanto minha respiração falhava, e meus pensamentos insistiam em relembrar as horas vividas com meu presente fugido. Coloquei então as mãos no lado esquerdo do meu peito, e ali nada senti. Nem um projeto de pulsação desregulada e fraca, nem ao menos a presença de algo batendo. Foi então que respirei fundo, e percebi que eu estava vazia, e meu coração despedaçado, duro, afiado, quebrado. Ele dolorosamente queria que eu sentisse dor, para se vingar do sentimento vazio que tanto o incomodava. Meu coração queria me machucar, para que de alguma forma, minha abstinência da verdade desaparecesse, para que eu corresse atrás da cola que juntaria os perversos pedacinhos. Mas meus pés, do chão não saíram. Minhas lágrimas salgadas não cederam. Tudo que fiz foi fechar os olhos e com meu amor sonhar, pelo menos surrealmente, meu coração completo iria estar.

Hora de partir


Dar um tempo pode ser a passagem para o paraíso. Deixar tudo para trás e fugir, do teu mundo, da sua rotina, das pessoas
que de te rodeiam. Nossa, às vezes não há outro modo para deixar que o bem estar te encontre, ficando sozinho, afastado,
refletindo ou apenas contemplando o silêncio do deserto. Sentir o vento passear por cada entranha corpórea, absorver o aroma
doce de lavanda no campo, deixar os olhos se fecharem ao encontrarem os dourados raios de sol. A simplicidade pode ser
a chave para a paz de espírito, o final feliz do conto de fadas, e pode ser o segredo para uma vida desprendida de tantos
anseios que não levam a nada. Após uma noite bem dormida, mergulhada em sonhos mais surreais que o comum, todos tem
que acordar, apoiar o braço sobre a cama, e romper a barreira que os ninava. Enfrentar tudo de novo, sentir-se renovado,
sentir o ar mais leve, e as estrelas mais brilhantes. Esperar para que todo o afastamento valha à pena, mas quando isso não
acontece é hora de ir, deixar que o destino nos embale em seus braços fortes. Se depois de longas noites solitárias de sono,
nada volta a ficar mais confortável, é melhor aceitar o momento, e apenas explorar novos horizontes, novos sorrisos, novos
abraços. A recompensa de o novo conhecer pode ser reconfortante, e a peça correta para o jogo da vida.

Borboletas




Todos nós mudamos. Metamorfose é uma coisa, de certo modo, natural. Pode ser que seja algo bom, mau, sutil, escandaloso, mas
sempre teremos que nos despedir da parte que insistiu em pular a janela e ir. A incógnita de conhecer o novo, é desconfortável,
anda mascarada, apenas esperando por boas vindas calorosas. Enquanto isso ficamos submersos sobre um mar de interrogações,
sombrias, temerosas. Mas, tudo tem de acabar, ou melhor, tudo tem de se encaixar, a menos que a sentença final seja a solidão,
e repulsa. Agente acaba por se acostumar ao novo detalhe, à nova vírgula de uma tempestade de letras quaisquer. Enfim, o que
nos resta é aceitar, adorar, ou conviver infeliz com a brisa envergonhada de frio, que sopra no meio do verão. Gozar do voo feliz
das borboletas, que alegre exploram suas novas e coloridas asas cortando o vento suave gelado.

Risos distantes


Aquela menina séria, que esconde suas doces gargalhadas. Eu sei que ela existe, na realidade não posso afirmar que alguém existe ou não, mas esse não é o ponto em que quero chegar. Afinal a existência é obscura, penetrante e freneticamente energizante. A verdade é que eu inocentemente acreditava nas risadas da menina, que já não era travessa, que já não soltava gritinhos suaves enquanto corria, tropeçava, caia, se levantava, olhava para os cantos e ria. Era indescritível escutar os risos que vinham dela e não rir junto, e não sentir um sentimento puro, nem um pingo de apelo social, nem interesse, e principalmente sem nenhum tom sínico. Eu acreditava que aqueles risos apenas saiam do espírito amável dela, eles inundavam o meu ser. Mas o tempo passou, bem o tempo passou mais rápido que o comum; não sei ao certo o que é comum ou bizarro, mas sei que o incomum surpreende de uma forma ácida. E ele passou, carregou uma boa parte da inocência da minha criança, carregou seu olhar curioso, que gostava de explorar o novo. Carregou seu pequeno tamanho, seus cabelos despenteados e cacheados. Mas principalmente carregou suas risadas inocentemente perfeitas. Eu continuava a amar minha menininha, digo, minha, bom eu não sei se agora ela é garota, moça ou mulher, mas continuava a ser a minha doce menina. Eu agora ficava sentado na minha velha cadeira de balanço, na sacada da minha antiga casa a interrogar insanamente o tempo. Porque você carregara os constantes risos da minha garotinha? Prá onde eles foram? E enquanto me entregava ao surreal avistava a imagem dela estacionando seu carro na garagem e me beijando a testa. Eu acredito filha, na sua doce risada, no seu brilhante sorriso, eu sempre acreditarei, mesmo enquanto eles insistem em se esconder. Eu dizia enquanto ela subia as escadas afoita sem poder escutar o que eu sussurrava. Fechei os olhos e novamente me entreguei aos nostálgicos sonhos da macia infância de minha risonha menina. Eu estranhamente ria durante o meu adormecer.

ps: A dona Lara Lincoln (filha do presidente, aushauhs) que me deu inspiração para escrever este texto, e também dedico a Rachel (Keels), porque um dia ela me falou de um texto assim, (que eu não li até hoje ¬¬', hehehe). Valeuu meninas. (:

São lembranças


Fecho meus olhos, tudo vem a minha mente. Lembranças correm como ondas do mar misturando a areia com todos aqueles antigos sentimentos. E eu olho pra trás e vejo que muita coisa mudou. Tantos olhares perdidos na imensidão do meu universo. Tantas voltas foram dadas, e muitas delas levaram ao mesmo lugar. Não posso dizer que me arrependo ou que não me arrependo porque a vida, a nossa curta vida é feita de grandes saltos e enormes tropeços. Já cai, me machuquei, mas também ja dei saltos tão altos que quase alcancei as estrelas lá no alto, e meu olhar refletiu tantas vezes aquele intenso brilho. Minhas páginas em branco transformaram-se, agora estão cheias, dos meus momentos. Tão intensos, tão rápidos, tão sublimes, únicos. Alguns nunca mais vão voltar, nunca mais terei o prazer de vivê-los de novo, e é isso que os torna tão perfeitos. Tudo agora se resume em lembranças, talvez o bem mais precioso que ninguém nunca nos roubará, que são compartilháveis, que são o resumo de tanto, que são o resumo de certa forma de tudo.

Refletindo sobre reflexos




Sabe, as vezes eu paro e penso como as coisas estão ficando desbotadas com o passar do tempo. Eu não sei se é porque, com o passar de dias, meses, anos, tudo vai ficando mais comum, ou porque tudo vai ficando mais bizarro. Às vezes as coisas ficam tão superficiais que quando caímos na real parece que estamos vivendo numa sociedade plastificada pelo brilho da tecnologia, praticidade, e sutileza exacerbada de relações. Aqui estão alguns exemplos fúteis dos quais estamos fartos de apreciar. Contato com a natureza, só se for pelo papel de parede do computador, somos capazes de pegar uma insolação com a intensidade dos raios solares expostos no monitor. Amizades tornaram-se convenções sociais, quantas vezes não"engolimos" a compania de determinada pessoa apenas para tentar impressionar alguém, provocar ciúmes, ou até mesmo despertar olhares vazios de interesse em algo concreto. Fazer reais sacrifícios para transmitir uma imagem do que não somos, mas do que queremos ser. Vivemos em meio a uma sociedade espelhada, que reflete vícios, apelos, podridão, que refletea fantasia da boa vizinhança. Porque na realidade o que importa é a nossa falsa imagem exposta noespelho. Deixemos de nos preocupar com o nosso cárater, porque facilmente podemos modificá-ló superficializando nossa personalidade, maquiando nossas expressões, despindo os nossos princípios. Se o que realmente buscamos é um futuro teatral, banhado de diferentes vilões, estamos conseguindo atingir o objetivo facilmente, porque cada vez mais adoramos a inconstância de nossos figurinos, resultando quase que sempre em personagens incostantes perante nossos princípios, isto é, se algum dia tivemos algum.

Quem não precisa ?


O amor precisa de mais afeto. A paz precisa de menos conflitos. A intimidade precisa de menos vergonha. A cumplicidade precisa de menos interesse. A verdade precisa de menos mentiras.A realidade precisa de menos fantasias.A honestidade precisa de mais transparência. A felicidade precisa de mais simplicidade. O ódio precisa de menos amargura. A amizade precisa de mais sinceridade. A espontâniedade precisa de menos bloqueios.O afeto precisa de mais carinho.A vida precisa de mais cor. O vento precisa de menos obstáculos.O tempo precisa de menos ponteiros. A impaciência precisa de mais tolerância.A esperança precisa de menos ilusão.A imaginação precisa de menos barreiras. O novo precisa de mais inovação. O sucesso precisa de menos brilho.

Existir


Eu quero ser real. Não quero mais basear minhas ações em personagens de filmes de romance ou atores comediantes. Eu preciso conhecer a essência da minha mente e reproduzir papéis reais, que não são copiados, que não são frutos da observação. Como é triste conhecer seu reflexo no espelho, e com as rugas e fios brancos de cabelo perceber que tudo não passou de uma peça teatral regada de falas decoradas. Inúmeras maquiagens compunham quem eu iria interpretar, trajes coloridos ou discretos denunciavam meu próximo caráter. Mas, como uma caixa de surpresas eu trapaceava as conclusões precipitadas dos meus fãs, quem dera eles existissem na realidade, e num instante mudava o desfecho escrito nos papéis estabelecidos para que alguém ganhasse vida. Às vezes eu conseguia transformar o mocinho no vilão. Outras a donzela virava fada madrinha. Mas eu acho que grande parte disso tudo era resultado de delírios, delírios tais que meu inconsciente fazia questão de dizer que não passavam de realidade. Era divertido me vestir de artista, era gostoso escutar os aplausos, quem dera eles existissem na realidade. Era bom sentir que uma parte daquilo fazia parte de mim, da minha verdadeira essência. Meus olhos brilhavam quando eu era a heroína, e era inspiração para crianças inocentes. Quando as premiações chegavam, e eu colocava um vestido vermelho, o orgulho de mim mesma transbordava, quem dera ele existisse na realidade. Uma das partes mais imponentes, era quando meus cabelos eram tingidos, um loiro brilhante, e eu incorporavauma mulher forte, sedutora, quem dera ela existisse na realidade. E quando eu me escondiaatrás das cortinas, bordadas de dourado, e fingia ser menina moleca, cheia de curiosidade, ah, isso era como a liberdade para mim, quem dera ela existisse na realidade. Enfim, todos os papéis, personagens, todos os "eus" que interpretei carregaram uma parte linda, mágica, curiosa, triste da minha história, ah, quem dera ela existisse na realidade.

Imaginário


Simplesmente não faço mais parte da minha realidade. Ou melhor, minha ex realidade. Comouma roupa velha, muito tempo sem ser usada, não veste bem; minha realidade parece que laceou.Uma espécie de vácuo, uma luz intensa em direção aos meus olhos, eu paro por um instante, tento enxergar o que há por trás. Mas a luz, é muito forte para ser ignorada. Aos poucos fico cega, masessa cegeira esta caindo como uma luva. As vezes essa neblina deixa tudo bem mais fácil, porqueé bom ser transparente, invisível. Mas quando a solidão bate a porta, ah caro amigo, aquela espessaneblina passa a tornar-se um impecílio impenetravel. A luz continua a machucar. Nessa neblina e eume encontro, bem no centro, bem no centro de tudo, todos. Meia noite, todos tornam-se extremamenteinsignificantes. Minha única vontade é ser parte da forte luz, aquela que tanto me cegou. Chega a serengraçado esse antagonismo, um engraçado bem peculiar, amargo. Mas agora pouco me importo em sanidade, porque a minha realidade fugiu de mim, decidiu assolar outra alma qualquer. Ser parte da luz não deve ser tão ruim afinal.

Objetivar e sonhar


Objetivos, podem estar distantes, ou próximos de serem alcançados. Pode ser que sejam um pouco egoístas, ou engraçados, quemsabe? Somos movidos por eles, vivemos, por eles. Pode ser que não esteja tão explícito assim, mas no fundo sempre há algo quedesejamos. Algumas explicações insanas podem ser compreendidas. Desejamos porque no fundo, ficaremos felizes quando finalmenteconquistarmos algo idealizado. Na realidade, não importo com filosofias, pois sei que minhas vontades ajudam minhas lágrimas ficarem escondidas por mais tempo. Meus objetivos, por mais surreais que sejam, despertam sentimentos serenos. A mais limpa sensação do frio na barriga, a mais singela expressão de vitória, o suspiro tão prazeroso de conquista. Tudo issofaz parte da corrida em direção aos planos que traçamos, em nossa vidinhas pacatas, agitadas, modernas, e inteligentes, quem sabe ?Seria pretenção dizer que eles sempre são alcançados, e prepotência afirmar que nos levarão à um lugar melhor. Mas o simplesfato de te-los presente em nosso intimo, nos faz pessoas mais crentes em momentos acolhedores. Objetivos podem sersimples, bizarros, e quem dera, brilhantes. A questão é que não há barreiras para que possamos traçá-los, portanto quantomais imaginarmos e acreditarmos mais perto deles estaremos. E isto é fato, pelo menos perante a minha forma de acreditare "objetivar".

Caustrofóbico


Outro dia desses li numa tira de papel, perdida sobre uma superfície qualquer a seguinte idéia: solidão não é se sentir sozinha,
é estar no meio de mil pessoas e sentir falta de uma.
Daí um monte de perguntinhas resolveram tentar procurar respostas na minha mente.
Porque temos a necessidade de sentir a presença de determinada pessoa?
Porque conseguimos nos identificar com alguém que nem bem conhecemos? Será que somos carentes demais, ou sozinhos demais
ao ponto de ter que procurar companhia incessantemente? Ah, só sei que o sentimento de ser acompanhada, e saber que alguém
se preocupa conosco vale a pena. Tenho medo de me entregar a novas experiências. Mas tenho pavor de novamente me encontrar
“caustofóbicamente” rodeada por muitos, mas observada por poucos. Ou melhor, por nenhum, que realmente se identifique com a minha atmosfera hostil.
Ps: A frase que dá início ao texto eu li no nick da minha amiga Isabella, uahsuahus, e acheii bem legal... Brigada por deixar roubar teu nick amiga, *---*
Beijokas.

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Não há sentido em decifrar o que há dentro de cada um. Cada cenário diz respeito apenas ao ator que o utiliza como meio de brilhar, imaginar, como ferramenta para existir dento de si.

Aline Ribeiro Cunha.

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"O coração da mulher é assim; parece feito de palha, incendeia-se com facilidade, produz muita fumaça, mas em cinco minutos é tudo cinza que o mais leve sopro espalha e desvanece." Manuel Antônio de Almeida

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