Qual seu nome ?


Naquela manhã ensolarada ela vestiu uma máscara, para que ninguém percebesse quem realmente agia naquele corpo. Prendeu o cabelo bem lá no alto e colocou um chapéu velho, seguido de um longo sobretudo e botas grosseiras. Abriu a porta da sua estranha casa e andou pelas ruas que se sucediam, sem ordem, sem sentido. Era diferente ver que ninguém a reconhecia, ninguém a possuía, ninguém fazia questão de cortejá-la. De vez em quando alguém olhava profundamente em seus olhos e esboçava alguma familiaridade, mas isso logo acabava, e ela continuava a seguir
seu solitário rumo. Disfarçada ou não, era doloroso saber que sozinha agora ela tinha que estar. Foi assim que aos poucos ela tentava deixar as fantasias exageradas de lado, e passava a vestir apenas um casaco ou um óculos engraçados. As mesmas coisas voltavam a acontecer, um ou outro olhava mas ninguém a reconhecia, ninguem tinha ALGO DELA GUARDADO DENTRO DE SI. Então em outra manhã, mas desta vez cinzenta, ela resolveu sair como realmente era, sem disfarces. Corria pelas ruas de olhos fechados, esperando que vários viessem ao seu encontro.De fato alguns vieram e relataram as pacatas vezes em que conseguiram sentir sua delicada voz
agindo dentro de suas mentes, ajudando nas horas difíceis. Só sei que poucos contei, e mesmo assim metade deles sinceros foram. Foi então que eu descobri quem aquela pessoa era, descobri seu nome, Esperança. Seu brilho estava meio apagado, e suas rugas mais salientes. Enquanto a noite caía, ela voltava devagar pra casa, tentava encontrar forças para acreditar na manhã seguinte.

E se hoje fosse seu último dia ?


Se hoje fosse o seu último dia, o que você faria? Alguns se arrependeriam por coisas que fizeram, outros por coisas que deixaram de fazer. Alguns perdoariam, outros se arrependeriam. É possível que muitos se ajoelhassem no chão duro, pedindo com todas as forças o recebimento de perdão. Certamente haveria os que arriscariam os que fugiriam os que se isolariam no meio do nada. Talvez alguns falassem coisas duras demais, coisas doces demais, chorariam, brincariam. Algumas paisagens específicas seriam observadas pela última vez, algumas músicas seriam apreciadas pela última vez,
alguns perfumes seriam inspirados pela última vez. Alguns olhares desde aquele instante, saudosos, seriam emitidos. Sorrisos nostálgicos, toques já distantes. Cada um teria uma ação específica, uma reação diferente, um desejo coerente. Não há muito que dizer, não há como agir sob toda a pressão de ter que se despedir de tantos que fizeram diferença, ter de abrir mão de todos que amamos ter de dizer tchau à magia que é viver. Não terminarei dizendo para vivermos o hoje como se não houvesse amanhã, mas sim para sermos gratos à vida durante o hoje, durante o amanhã, durante o sempre.
Não digo que minha visão é otimista ao extremo, e muito menos grata em todos os momentos, mas sim que, melhor do que lamentar é fazer com que cada segundo valha a pena, e isso só diz respeito à vontade que cada um tem de ser espontaneamente
grato à oportunidade que temos, a vida.

Pedaços


Hoje, acordei um pouco incomodada, e quando meus olhos resolveram romper o breu que me desligava da realidade, percebi que algo quebrado em vários pedaços me machucava. Não soube distinguir ao certo o que aquelas coisas negras, pontudas e despedaçadas faziam ali, e nem do que eram feitas. Meses passaram-se, pessoas passaram pela minha vida, e para ser sincera, muitos não fizeram falta quando resolveram partir. Mas uma, valia por milhares, assim como uma estrela brilhante no céu, vale pelas outras, que se assemelham a poeira. Aquela pessoa fazia com que o vento parasse de soprar, e que os outros virassem estátuas gélidas e superficiais. Mas enfim, ele se foi, e de fato meu mundo parou nada mais importava, eu só gostaria de sentir sua presença novamente, só gostaria de escutar meu coração batendo mais forte quando percebia seus lábios nos meus. E foi assim, durante anos, eu acordava sentindo as agulhas surreais beliscando minha pálida pele, enquanto minha respiração falhava, e meus pensamentos insistiam em relembrar as horas vividas com meu presente fugido. Coloquei então as mãos no lado esquerdo do meu peito, e ali nada senti. Nem um projeto de pulsação desregulada e fraca, nem ao menos a presença de algo batendo. Foi então que respirei fundo, e percebi que eu estava vazia, e meu coração despedaçado, duro, afiado, quebrado. Ele dolorosamente queria que eu sentisse dor, para se vingar do sentimento vazio que tanto o incomodava. Meu coração queria me machucar, para que de alguma forma, minha abstinência da verdade desaparecesse, para que eu corresse atrás da cola que juntaria os perversos pedacinhos. Mas meus pés, do chão não saíram. Minhas lágrimas salgadas não cederam. Tudo que fiz foi fechar os olhos e com meu amor sonhar, pelo menos surrealmente, meu coração completo iria estar.

Hora de partir


Dar um tempo pode ser a passagem para o paraíso. Deixar tudo para trás e fugir, do teu mundo, da sua rotina, das pessoas
que de te rodeiam. Nossa, às vezes não há outro modo para deixar que o bem estar te encontre, ficando sozinho, afastado,
refletindo ou apenas contemplando o silêncio do deserto. Sentir o vento passear por cada entranha corpórea, absorver o aroma
doce de lavanda no campo, deixar os olhos se fecharem ao encontrarem os dourados raios de sol. A simplicidade pode ser
a chave para a paz de espírito, o final feliz do conto de fadas, e pode ser o segredo para uma vida desprendida de tantos
anseios que não levam a nada. Após uma noite bem dormida, mergulhada em sonhos mais surreais que o comum, todos tem
que acordar, apoiar o braço sobre a cama, e romper a barreira que os ninava. Enfrentar tudo de novo, sentir-se renovado,
sentir o ar mais leve, e as estrelas mais brilhantes. Esperar para que todo o afastamento valha à pena, mas quando isso não
acontece é hora de ir, deixar que o destino nos embale em seus braços fortes. Se depois de longas noites solitárias de sono,
nada volta a ficar mais confortável, é melhor aceitar o momento, e apenas explorar novos horizontes, novos sorrisos, novos
abraços. A recompensa de o novo conhecer pode ser reconfortante, e a peça correta para o jogo da vida.

Borboletas




Todos nós mudamos. Metamorfose é uma coisa, de certo modo, natural. Pode ser que seja algo bom, mau, sutil, escandaloso, mas
sempre teremos que nos despedir da parte que insistiu em pular a janela e ir. A incógnita de conhecer o novo, é desconfortável,
anda mascarada, apenas esperando por boas vindas calorosas. Enquanto isso ficamos submersos sobre um mar de interrogações,
sombrias, temerosas. Mas, tudo tem de acabar, ou melhor, tudo tem de se encaixar, a menos que a sentença final seja a solidão,
e repulsa. Agente acaba por se acostumar ao novo detalhe, à nova vírgula de uma tempestade de letras quaisquer. Enfim, o que
nos resta é aceitar, adorar, ou conviver infeliz com a brisa envergonhada de frio, que sopra no meio do verão. Gozar do voo feliz
das borboletas, que alegre exploram suas novas e coloridas asas cortando o vento suave gelado.

About this blog


Não há sentido em decifrar o que há dentro de cada um. Cada cenário diz respeito apenas ao ator que o utiliza como meio de brilhar, imaginar, como ferramenta para existir dento de si.

Aline Ribeiro Cunha.

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"O coração da mulher é assim; parece feito de palha, incendeia-se com facilidade, produz muita fumaça, mas em cinco minutos é tudo cinza que o mais leve sopro espalha e desvanece." Manuel Antônio de Almeida

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